"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um blog que se preze refere a WikiLeaks

Tenho dúvidas sobre a correcção da publicação de documentos dos tipos daqueles que têm sido divulgados e tenho dúvidas sobre o jornalismo que publica o que a WikiLeaks divulga. Mas eles confirmam que o rei vai nu, que muitos reis vão nus.
E há quem, nuzinho de todo, não fique bem no retrato.

O embaixador dos EUA podia estar "picado" pelo facto dos negócios do armamento passarem por países europeus e não pelos Estados Unidos, há dados que, objectivamente, poderão não corresponder à realidade, mas há passagens dos telegramas do embaixador que me parecem um óptimo retrato da forma de estar, da visão, das limitações dos nossos políticos e dos nossos chefes militares:

«Portugal sofre de um complexo de inferioridade e da percepção de ser económica, política e militarmente mais fraco do que os seus aliados.»

«No que diz respeito a contratos de compras militares, as vontades e acções do Ministério da Defesa parecem ser guiadas pela pressão dos seus pares e pelo desejo de ter brinquedos caros. O Ministério compra armamento por uma questão de orgulho, não importa se é útil ou não.»

E há uma passagem que faz lembrar a anedota do remador português, na competição entre uma embarcação portuguesa e uma embarcação japonesa*:
«Portugal tem mais generais e almirantes por soldado do que quase todas as outras forças armadas modernas (...)» Existirão, ainda mais «170 generais adicionais que recebem o ordenado por inteiro enquanto se mantêm inactivos na reserva.»
O facto de Portugal ter tido uma guerra não justificará, 36 anos depois do fim dessa guerra, a pesada estrutura militar existente.


*Na equipa japonesa havia um chefe de equipa e dez remadores, enquanto na equipa portuguesa havia um remador e dez chefes de serviço. Os japoneses ganhavam sempre e os portugueses acusavam o remador de ser o responsável pelas derrotas!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A disfunção eréctil ao dia 23

Não sei se pela primeira vez, o mercantil Dia dos Namorados foi, também, o Dia Europeu da Disfunção Eréctil.
Curiosa coincidência (uma no cravo, outra na ferradura)!

Na qualidade de professor do ensino oficial, logo funcionário público, foi hoje, dia 23, quando verifiquei o valor do meu salário mensal que me senti disfuncional.
É de facto frustrante sentirmo-nos disfuncionários!

Utopia

Também não me esqueço deste dia por piores razões.
Em 1987, morria José Afonso.

O homem que sonhava a utopia de uma cidade sem muros nem ameias, capital da alegria.




Que a sua voz continue a ser ouvida e as suas palavras escutadas.
E que, com o seu exemplo, todos continuemos a sonhar...

Há 28 anos...

Há 28 anos comecei esta vida.

Agradeço este tempo aos meus colegas e amigos (e à família... que me atura!).
Agradeço àqueles meus alunos que fizeram valer a pena estes 28 anos.







terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Coimas aos pais que não se envolvam na educação

Governo dos Açores quer aplicar coimas aos pais que não se envolvam na educação

(...)
A posição do executivo açoriano foi anunciada no plenário da Assembleia Legislativa Regional, durante uma interpelação ao governo sobre educação promovida pelo deputado regional do PPM, Paulo Estêvão, para debater os problemas do sector no arquipélago.
Cláudia Cardoso, que tomou posse do cargo há cerca de um mês, defendeu ser necessário um "reforço urgente da autoridade do pessoal docente, dentro e fora da sala de aulas", nomeadamente concedendo aos professores o estatuto de "autoridade pública".
"Passar-se-á a considerar todas as situações de agressões, como situações de crime público", afirmou a secretária regional da Educação, que pretende criminalizar os maus comportamentos escolares através de "profundas alterações" no Estatuto do Aluno, no Regulamento de Gestão Administrativa e Pedagógica dos Alunos e no Regulamento de Autonomia e Gestão das Escolas.
Cláudia Cardoso pretende também exigir uma maior participação dos pais e encarregados de educação no acompanhamento escolar dos jovens estudantes, admitindo aplicar "coimas" e "perda de direitos sociais" a quem não esteja interessado no sucesso escolar dos educandos.
"A educação não é apenas um papel da escola, nem sobretudo da escola ou dos professores", frisou, recordando que o sucesso escolar de alguns países europeus resulta também do papel das famílias na educação dos alunos.
(...)
Público on-line, 22 de Fevereiro de 2011

Viva os Açores!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Graça Morais

Há pouco, na RTP2, num programa sobre Manuel Brito, enquanto coleccionador de arte, vi a Graça Morais falar sobre o seu trabalho e o que com ele se relaciona.

Gosto desta mulher, pintora, transmontana, com uma ligação enorme à terra, às suas origens. É comovente ouvi-la falar das suas raízes, da relação da (sua) vida com a sua obra. Ela não seria a mesma pintora se tivesse nascido noutro lado.
Falava ela das novas formas de comunicação, mas, enquanto pintava um ramo de oliveira com azeitonas, dizia:
«O que faz falta são os cheiros, o contacto com as pessoas, sentir.»

Vale a pena ler o que foi escrito em
rumo à felicidade (in Jornal de Notícias, Porto, 13 de Maio de 2001)

Há gente que nos ajuda a viver.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cornflakes Kellogg's

Há 105 anos, foi criada The Battle Creek Toasted Corn Flakes Company, posteriormente conhecida como Kellogg Company. Na origem desta empresa esteve a experiência dos irmãos Kellogg na produção de pequenos-almoços à base de cereais no sanatório de Battle Creek, que se destinariam a doentes psiquiátricos.

Os primeiros cornflakes foram produzidos por acaso, ainda na última década do século XIX, devido ao esquecimento de trigo cozido dentro do forno. Assim se teriam obtido flocos ligeiros e crocantes.

Para mim, a história dos cornflakes remete para os 3 meses que passei de cama em resultado de uma hepatite. Foram as minhas férias grandes - Julho/Agosto/Setembro de 1968 - entre o exame da 4.ª classe e o 1.º ano do Preparatório, na Pedro de Santarém velhinha, antigo Convento de Santo António da Convalescença.

O acaso da descoberta dos cornflakes faz-me lembrar a do aglomerado de cortiça. Há esquecimentos que vêm por bem.
Pela parte que me toca, quando me esqueço de alguma coisa ao lume cheira sempre a esturro.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Carlos Paredes (com Tejo ao fundo)

Também hoje era o aniversário de Carlos Paredes, nascido em 1925.



Saudade de um Músico e da Música com alma!

Prof. Orlando Ribeiro nos Açores

A actividade científica de Orlando Ribeiro fez com que realizasse inúmeras viagens por Portugal ou outros países.
Muitos informações eram então registadas nos seus cadernos de campo.
No dia em que completaria 100 anos, recordo as suas viagens aos Açores, em 1953 e 1958, onde se interessou, entre outros temas, pelos fenómenos vulcânicos.
Em 1958 acompanhou in loco, durante alguns dias, a erupção dos Capelinhos (ilha do Faial), fotografando, participando em filmagens, fazendo registos nos seus cadernos.




segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Gérard Castello-Lopes - Capturar o momento significante

Morreu o homem que pretendia "capturar o momento significante" e que gostava de fotografar charcos.

Auto-didacta, quando se iniciou na arte fotográfica (década de 1950), não fazia uma fotografia socialmente pacífica: «A opressão, a tristeza, a miséria que quis fotografar em pleno Estado Novo, isso para mim era uma provavelmente errada obrigação moral de dar testemunho.»
Em 2004, a Assírio & Alvim editou "Reflexões sobre Fotografia", uma recolha de textos produzidos por Gérard Castello-Lopes para conferências e publicações.

«Com vagar, sem voracidade, Gérard não metralhava, compunha. Assim tratou a fotografia como uma grande arte.»    António Barreto

Com um percurso irregular - dedicava-se a várias actividades e teve largos períodos em que não fotografou - encontrou a "felicidade paradoxal", um momento de milagre, no click único de um rochedo.

 “Consegui fotografar a pedra e o contrário da pedra, isto é, o peso e a ausência de peso. A pedra foi uma espécie de oferta de Deus.”

«E o que acontece hoje é que ninguém pode fazer confiança em nenhuma fotografia, porque os computadores permitem recompor, obliterar, recontrastar, corrigir as cores... O que faz falta é o Picasso, para se servir criativamente dessa liberdade.»   Gérard Castello-Lopes

Prof. Orlando Ribeiro

A RTP 2 assinalou o centenário do nascimento de Orlando Ribeiro (16 de Fevereiro de 1911) com a passagem do documentário Orlando Ribeiro, Itinerâncias de um Geógrafo.

Quando o reconhecimento público do trabalho e da produção artística ou científica nem sempre acontece, é de saudar este acto de divulgação cultural, “exercício de memória”, num documentário de qualidade sobre este notável vulto da ciência portuguesa.
Orlando Ribeiro imprimiu um impulso decisivo à Geografia no nosso país, nas vertentes da investigação, do ensino universitário e da divulgação.
Doutorou-se muito cedo (1936), foi professor universitário, em Coimbra e Lisboa, tendo deixado uma vastíssima obra editada e um largo conjunto de discípulos.


Orlando Ribeiro, falecido em 1997, mantém-se vivo em: http://www.orlando-ribeiro.info/home.htm o que será revelador da importância da sua actividade.

Os "amigos" de Mubarak

Nestes últimos dias, Mubarak tem perdido muitos amigos.
No facebook é vê-los desamigarem-se!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Moção de censura

Estou a ponderar apresentar uma moção de censura ao Governo.
E à oposição também.
Está muito in e eu gostaria que eles estivessem out!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O conforto de uns é o nosso desconforto

Em Janeiro, o Governo conseguiu arrecadar mais de 350 milhões de euros de impostos. Em relação a Janeiro de 2010, as receitas de IRS, IRC e IVA cresceram 15%.

Ouvi na TSF o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Sérgio Vasques, afirmar que o Governo está globalmente optimista quanto à execução fiscal e que "estes dados relativos à receita nos permitem olhar seguramente para o 1.º trimestre com um grande conforto."

Nós vamos olhando, seguramente, com um grande desconforto!
Maior quando os maiores lucros da banca se traduziram na diminuição das suas contribuições e quando, neste mês de Janeiro, já vai em 120 o número de reformas acima dos 4 mil euros mensais.

É que o conforto não toca a todos!

As águas do tempo

Nuno de Almeida, combatente liberal na pele de personagem, sintetizou os sentimentos que prevaleciam no rescaldo das paixões incendiárias:

«- A vitória na guerra da liberdade é a vitória da saudade. Conquistámos o regresso à terra mãe. E estamos a arrumar no sotão da memória as armas juntamente com as razões. Não tarda que os das novas gerações nos desprezem e tenham zanga, por de pouco lhes servir a nossa experiência de fazedores da história que já não será sua. Está bem assim... Nunca haverá dique capaz de deter as águas do tempo.»

Álvaro Guerra, Guerra Civil (1993)

Presidente de Portugal ou Presidente dos Portugueses

Ao ler Guerra Civil, de Álvaro Guerra, cruzei-me com os franceses que, em 1830, defendiam Luís Filipe (o futuro rei burguês), contra Carlos X, que suspendera o texto constitucional, encerrara a Câmara dos deputados e instituíra a censura.
Esses franceses queriam um rei dos franceses, não um rei de França.
Lembrei-me do discurso de Cavaco Silva na noite das últimas eleições, ufano da vitória em todos os distritos, afirmando-se "Presidente de todo o Portugal", não Presidente dos Portugueses.
Posições.

O Presidente de todo o Portugal que esclarece a situação fiscal do cidadão Cavaco Silva sobre a compra da casa e o pagamento da SISA através do serviço da Presidência.
Não distingue posições.
Deve ser da idade (ou é o poder que sobe à cabeça).

Portugal fica para depois
e os portugueses também
como tu.
Almada Negreiros

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Fundação Cidade de Guimarães - salários

Como se costuma dizer, "vendo ao mesmo preço a que comprei".
Não sei se é verdade: recebi esta informação como tantas vezes as recebemos nos dias de hoje - "Na internet todos os idiotas se encontram (antigamente tinham de fazer algum esforço)"

Folha salarial da Fundação Cidade de Guimarães, criada para a Capital da Cultura 2012:
- Cristina Azevedo - Presidente do Conselho de Administração:
14.300 € (2 860 contos) mensais + Carro + Telemóvel + 500 € por reunião
- Carla Morais - Administradora Executiva
12.500 € (2 500 contos) mensais + Carro + Telemóvel + 300 € por reunião
- João B. Serra - Administrador Executivo
12.500 € mensais + Carro + Telemóvel + 300 € por reunião
- Manuel Alves Monteiro - Vogal Executivo
2.000 € mensais + 300 € por reunião

Todos os 15 componentes do Conselho Geral, de entre os quais se destacam Jorge Sampaio, Adriano Moreira, Diogo Freitas do Amaral e Eduardo Lourenço, recebem 300 € por reunião, à excepção do Presidente (Jorge Sampaio) que recebe 500 €.

Quando se repete incessantemente que o país está em crise e o Presidente da República, o mais alto magistrado da Nação (como se diz), tem um vencimento que até o faz optar por dispensá-lo e ficar com as pensões a que tem direito, dá que pensar.

Como dará que pensar o facto do Prof. Cavaco Silva estar a fazer serviço de voluntariado na presidência - podia dispensar o cargo, pois, quanto a ganhos, ganhava o mesmo.

Revolução? Que revolução?

Os acontecimentos no Egipto levantam muitas questões (tal como o que já se passou na Tunísia, mas isso parece esquecido), de conteúdo, digamos, sobre as razões subjacentes a este fenómeno que atravessa o mundo islâmico, mas também de coerência e/ou de hipocrisia em relação aos poderes nesses países, por parte de quem é poder no Ocidente.
Mas a propósito desses acontecimentos, que parecem merecer a simpatia e a admiração por quem não tem a coragem de fazer o mesmo, só queria lembrar o que escreveu Sophia de Mello Breyner, em 1975.
Como Sophia está a ser lembrada...

«Para que uma revolução vença realmente não basta que conserve o poder é preciso que seja amada. Só a revolução amada é a revolução democrática. Mas a revolução só é amada quando não emprega a violência.»

Ano do Coelho

Entrámos hoje no ano do coelho, segundo o cálendário/horóscopo chinês.


O dia esteve com um sol agradável. Pelo calendário da minha sogra, que não é o chinês, é dia de N. Sr.ª das Candeias. Diz ela, que foi mãe a 2 de Fevereiro, que quando este dia se ri, está o Inverno para vir. Será?

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011