"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 29 de maio de 2011

Governo tem estado bem, disse Passos Coelho

«O Governo tem estado bastante bem nas respostas que tem encontrado para a crise financeira, que, de resto, não são respostas muito originais, são concertadas ao nível europeu, mas que têm funcionado bem em Portugal.»
Pedro Passos Coelho, Expresso, 10 de Dezembro de 2008

Foi nesta altura que José Sócrates pensou que tinha alguém com quem dançar o tango!

O Dia


Palácio da Pena (1994)

 Passa o dia contigo
Não deixes que te desviem
Um poema emerge tão jovem tão antigo
Que nem sabes desde quando em ti vivia.
Sophia de Mello Breyner, Ilhas

sábado, 28 de maio de 2011

Feira Internacional da Cortiça

Desde ontem e até ao próximo dia 1 de Junho, em Coruche, decorre a Feira Internacional da Cortiça (Ficor).
Há apresentações de produtos ligados à cortiça, exposições, visitas a unidades industriais, acções de divulgação da Plataforma da Transacção da Cortiça, workshops de artes decorativas em cortiça, provas de vinhos, passeios em áreas de montado de sobro, demonstrações de descortiçamento, um desfile de moda ligada à cortiça e ainda outras actividades.
O concelho de Coruche tem mais de metade do seu território ocupado com montado de sobro. Na actualidade, também ali se encontram importantes fábricas de produtos de cortiça.


Felizmente que há poderes políticos, como a Câmara de Coruche, que valorizam as riquezas naturais dos seus territórios e, neste caso, procuram incentivar as actividades económicas e culturais em torno dessa riqueza contribuindo para ultrapassar uma fase menos positiva por que passou a indústria, nomeadamente o sector rolheiro. Não basta dizer que somos o maior produtor mundial de cortiça.

À cortiça voltaremos.

Cheiro da terra molhada


Hoje, depois da chuvada, fui respirar o cheiro da terra molhada.
Perfume terrestre!...




quinta-feira, 26 de maio de 2011

Os vulcões islandeses


"Okay, we've turned it down a bit. But if there's any more
talk about us repaying our debts...!"


O degelo provocado pelo aquecimento global e pela actividade vulcânica
leva tudo à frente 


quarta-feira, 25 de maio de 2011

Dois cães a jantar num restaurante

Foi a Lena P. que me enviou o link há pouco.
Delirante!




Vulcões islandeses

Os islandeses, para além de irritarem alguns bancos e governos, ainda conseguem pôr em funcionamento os seus vulcões, embaralhando os aéreos céus.
Devem ser os seus duendes, que vivem nas rochas (nas florestas islandesas é que não podia ser).

O Grímsvötn fica lá para o fundo, sob o Vatnajökull (glaciar)
Algures lá ao fundo


Ao menos, este tem um nome mais simples: Grímsvötn em vez de Eyjafjallajökull.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Avaliação do desempenho docente

Na minha nova qualidade de avaliador, há um mês assumida, participei na reunião de relatores/avaliadores. A primeira, para mim.
Participei a modos de quem participa em cerimónias fúnebres.
E cumpri o doloroso dever...

domingo, 22 de maio de 2011

A espuma dos dias (ou a pequenez do candidato)

Num momento lembra-se de anunciar a junção de ministérios, depois saliva com a ideia de Merkl sobre a redução do período de férias e propõe o corte nos feriados. Alegremente, vai saltitando de nenúfar em nenúfar.
De que mais pormenores se irá lembrar Passos Coelho? De essencial... nada!
Por exemplo: Que ideias para a reforma administrativa? Que medidas para tornar a justiça mais célere?

«A democracia é um mecanismo que garante que nunca seremos governados melhor do que aquilo que merecemos.»  
George Bernard Shaw

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Optimismo

Num site em que se comentava a pintura de Magritte, deparei com o seguinte comentário:

Olá eu sou a michelly! e queria falar um pouco sobre suas obras: são muito bonitas diferentes e chama bastante a atenção você e uma otimo pintor
continue assim!bjo

Aposto que Magritte adorou!


E vai continuar a pintar assim.

P.S. - Poderemos considerar que é o reconhecimento da modernidade da obra de Magritte. 

Debate - "Ainda não é desta que haverá futuro"

«O problema, neste momento, ao olhar o panorama que se nos apresenta, é que isto mais parece um filme do Sérgio Leone: o bom não existe, e a escolha que é dada entre o mau e o vilão nem sequer tem já aquela música do Ennio Morricone para atenuar a dificuldade em puxar o gatilho do voto. Ainda não é desta, portanto, que haverá futuro.»
Nuno Júdice, JL, 20 de Abril de 2011

Debate José Sócrates/Passos Coelho - resumo

O jogo foi rijinho, como se esperava, mas nem sempre bem jogado, com as equipas a jogar ao molho.
As impressões dos dois contendores, após o debate, revelam, para grande surpresa, que cada um se considera vencedor.

O debate, no entanto, parece que se vai decidir através dos comentários dos analistas políticos credenciados e dos fazedores de opinião. São eles que estão, neste momento, a fazer exercícios de aquecimento.

Debate José Sócrates/Passos Coelho - aquecimento

Quer José Sócrates quer Passos Coelho já fazem os exercícios de aquecimento.
Muitos fotógrafos captaram para memória futura a entrada das equipas em campo.

Debate José Sócrates/Passos Coelho - chegada das equipas

Estamos a acompanhar passo a passo o debate entre os nossos dois grandes queridos líderes.
O debate é considerado de elevado risco.
Já chegaram os autocarros com os elementos das duas equipas. As forças policiais não registaram quaisquer acções descabeladas: as claques não atiraram pedras e os adeptos ainda não chamaram aqueles nomes que é costume (apesar do PS contar com José Lello e Pita Ameixa e o PSD com Mendes Bota).
Espera-se um bom jogo, embora se saiba que nestas finais, mais importante do que jogar bem, o que interessa é ganhar (nem que os golos sejam marcados com a mão).
Os repórteres de pista registaram as primeiras impressões dos elementos das duas equipas. Disseram-se aquelas banalidades do costume: "Vai ser um jogo difícil, mas estamos bem preparados, com a moral em alta e convencidos de que vamos vencer o jogo. Esperamos que o árbitro esteja ao nível do desafio e não tenha interferência no resultado."
E prontos!...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

De acordo com Angela Merkel

Devemos seguir o exemplo dos alemães e reivindicar 35 horas semanais de trabalho e 30 dias de férias.
Ah, é verdade: e os mesmos salários! Devemos uniformizar os salários.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Final da Liga Europa - reflexos da crise

O estádio era irlandês, as equipas eram portuguesas e o árbitro (espanhol) viu-se grego nalguns momentos para segurar o jogo.

sábado, 14 de maio de 2011

Quem tramou Pedro Rabbit?

O professor Santana Castilho, professor coordenador do Ensino Superior Politécnico com larga experiência de gestão escolar, que fez parte do VIII Governo Constitucional, colaborador de diversas publicações, autor de várias obras sobre gestão e administração escolar e política educativa, criticou sistematicamente a política educativa dos governos Sócrates e foi sendo ouvido, durante o último ano, pelo líder do PSD.

Ao editar um novo livro, O ensino passado a limpo, Santana Castilho convidou Pedro Passos Coelho para prefaciar a obra.
Nesse prefácio pode ler-se:
«O Ensino Passado a Limpo é assumidamente um contributo público para um novo programa de actuação política no domínio da Educação. (...)

Aqui se procura, com grande pragmatismo mas sem perda de um sólido quadro de referência programática, apontar orientações e soluções susceptíveis de serem incorporadas num programa de acção política governativa.»
Na passada 5.ª feira, no lançamento do livro, em que Pedro Passos Coelho esteve presente, Santana Castilho afirmou:
«Foram as primeiras palavras que me cativaram em si. Foi o senhor dizer "Eu não quero desconfiar dos professores, eu tenho que confiar nos professores, o país não se constrói sem os professores". Aquilo que está no programa [do PSD] é desconfiança nos professores, é a continuidade do modelo que os professores rejeitaram, que não serve o sistema.
De facto, não fiquei satisfeito com o que li. E não reconheci coerência entre o que li e o que tem tido a gentileza de me dizer de há um ano para cá.»


Quem é que se enganou?
- Pedro Passos Coelho... porque não compreendeu o que Santana Castilho lhe tem dito e aceitou prefaciar o livro.
- Quem escreveu o programa do PSD... porque não compreendeu as ideias que Pedro Passos Coelho lhe passou para a educação.
- Santana Castilho... porque estava convencido que Pedro Passos Coelho o tinha compreendido e convidou-o para escrever o prefácio.




sexta-feira, 13 de maio de 2011

Pentelhices - ou a dita «"gaffe" de Catroga»

O título - Pentelhices - é roubado à minha amiga Edite, à Edite dos dias em que está bem disposta.

Logo que o homem - o distinto economista, negociador e responsável pela redacção do programa do maior partido da oposição, Eduardo Catroga - diz alguma coisa certa, "Ai Jesus, o que ele disse!".

"Os jornalistas andam a discutir "pentelhos" em vez de discutirem as coisas mais sérias", disse na SIC.
E não é verdade? Há quanto tempo!!!


P.S. - O dicionário diz que pentelho é qualquer coisa pequena ou de escassa importância, sem valor.
O homem, nisso, está certo!

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Como é diferente a Islândia

Em Portugal fazem-se vídeos de apelo à ajuda internacional e... volta-se a votar nos mesmos partidos. Na Islândia questionam-se seriamente (judicialmente) os poderes (político e financeiro - antigo governo e banqueiros) e os resultados eleitorais que se seguiram ao rebentar da crise foram bem diferentes.

No Público on-line de ontem vi este título:
Entrevista a Gylfi Zoega, do Banco Central da Islândia
“Portugal deve investigar quem do Governo e banca está na origem do endividamento”
E li:
O membro do Banco Central da Islândia Gylfi Zoega considera que Portugal deve investigar quem está na origem do elevado endividamento do Estado e bancos, e porque o fez, e que “foi uma bênção” Portugal estar no euro.
“Temos de ir aos incentivos. Quem ganhou com isto? No meu país eu sei quem puxou os cordelinhos, porque o fizeram e o que fizeram, e Portugal precisa de fazer o mesmo. De analisar porque alguém teve esse incentivo, no Governo e nos bancos, para pedirem tanto emprestado e como se pode solucionar esse problema no futuro”, diz o responsável.

As medidas que preconiza é que são difíceis e... controversas.



domingo, 8 de maio de 2011

O vídeo "Portugal explicado aos finlandeses"

Até me diverti ontem a ver o filmezinho na televisão. Já o revi na net.
Devem-se ter trocado uns bons milhares de mails com o envio de links para o vídeo. Recebi vários.
Já foram muitos milhares de visionamentos no youtube.
Já li muitos comentários de satisfação pela afirmação de "portugalidade" ou coisa do género que o filme exprime.
Mas, pensando bem, parece-me triste.

O filmezinho até foi produzido aqui nas vizinhanças. Não nego que tem a sua piada, com uma série de curiosidades históricas bem apanhadas, algumas delas pouco ou nada conhecidas.
Mas, não se tratará da apresentação de Portugal como um aristocrata falido, uma Nação com um passado riquíssimo e um presente pelintra, em que os únicos exemplos positivos são o Mourinho e o Ronaldo (para além dos pastéis de Belém)?
Mesmo lembrar a ajuda que foi dada à Finlândia em 1940, comparando-a, claramente, com a ajuda que esperamos agora desse país, é um exemplo infeliz. Nessa época, a Finlândia sofreu bastante com o contexto de guerra que se vivia na Europa. Vicissitudes políticas fizeram com que o seu território fosse palco de confrontos com os soviéticos e com os alemães.
Parece-me muito diferente uma campanha de ajuda realizada para uma população (um país) que vive uma guerra - para mais provocada por outros (a Alemanha nazi) - ou um pedido de ajuda para um país que vivendo, há mais de 35 anos, em paz e democracia não se tem sabido governar de forma a sustentar-se a si próprio.

Lembrar o período em que o poder político finlandês alinhou regionalmente com a alemanha nazi contra o vizinho soviético não será uma boa ideia. O regime de Salazar só participou no apoio à Finlândia pela proximidade ideológica então existente. Estávamos na fase inicial da II Guerra Mundial e, em Portugal, era maior a simpatia do poder político pelas forças do Eixo.
Esse alinhamento pró-germânico da Finlândia durante parte da II GM deixou traumas na população finlandesa das gerações mais velhas, até porque, muito pragmaticamente, o reverso foi a posterior necessidade de expulsar os alemães do país e a perda de parte da Carélia, no Norte, para a União Soviética.

Neste momento (e neste vídeo), Portugal apresenta-se como o pedinte que puxa dos seus velhos galões (já gastos, sem brilho) para exigir uma ajuda a que se acha com direito, que os outros têm o dever de dar.
É certo que podemos argumentar com a necessidade de uma política comum europeia, de uma acção conjunta face ao funcionamento dos mercados, das agências, de todas as máfias e interesses capitalistas que nos lixaram, etc. etc. etc. Mas o que é que os nossos poderes políticos e financeiros têm andado a fazer e para onde é que nos têm arrastado? E pelas sondagens tudo indica que vamos voltar a pôr os mesmos senhores no poder! Quer se trate do PS ou do PSD!

Mas voltando ao filmezinho...
Parece-me que poderia ser um bom vídeo de divulgação do país... com fins turísticos. Se pretendia sensibilizar os finlandeses a contribuir para o peditório, o resultado pode ser o inverso. Eles têm outra cultura cívica, outra forma de estar na vida e de viver a democracia. Economia paralela, fuga aos impostos, corrupção, são conceitos relativamente estranhos na Finlândia. Eles têm uma real dificuldade em compreender os países (o comportamento dos nativos) do Sul da Europa. Já passei por essa experiência.
Estou a imaginá-los a dizer: "Se são tão bons assim... governem-se!"
Se o fizerem, dou-lhes razão.

Galandum Galundaina

Os Galandum Galundaina dedicam-se à recolha, estudo e divulgação da música tradicional do Nordeste transmontano (já lá vão uns 16 aninhos).

Como escrevem no Senhor Galandum «La lhéngua própia, l Mirandés, la música i ls sous strumientos, las manifestaçones festibas, la gastronomie, toda la bibença ne l campo, i muitas outras rezones, dan-le a Miranda i al Nordeste Trasmuntano an giral, ua cultura i eidentidade que merece ser acarinada, guardada i bibida.»
A sua música é o exemplo desse património cultural.


                                                    
Esta ye la tonadica de l fraile

Conheço uma pessoa que diz adorar Miranda do Douro mas que, se calhar, não conhece isto.



Feira dos Livros

Feira do Livro cheia de gente. Apinhada.
Mas prefiro os encontrões ao ar livre e à volta dos livros do que nos centros comerciais. É duplamente mais saudável - pelo sol e pelos livros.


Bandeira da Bertrand à esquerda - homenagem à mais antiga livraria
 À 3.ª visita comecei a comprar.
É o meu consumismo.



Sargo com cheirinho

Há muito tempo que um sargo grelhado não me sabia tão bem.
Mas fui para a Feira do Livro com um cheirinho a comida na roupa, tipo Chanel Barbecue ou Armani Restaurant, sei lá!...

Confesso que roubei estes sargos noutro blog



sábado, 7 de maio de 2011

Até os geysers são diferentes!

Strokkur Geyser (Islândia)

Geyser do Cais do Sodré


Uma outra forma de estar

Da comissão de inquérito constituída na Islândia saíram duas investigações. Uma judicial, aos banqueiros, que procura responsabilidades criminais. Já deteve para interrogatório e mandou arrestar bens dos principais banqueiros que dominavam o sistema financeiro do país, antes do colapso.
Dali saiu, também, uma investigação especial à responsabilidade política. O Supremo Tribunal islandês, constituído por peritos em leis e políticos nomeados pelo Parlamento, vai reunir-se em breve para julgar o ex-primeiro-ministro Geir Haarde, acusado de incompetência e má gestão.
 
Revista Visão, 28 de Abril de 2011
 
Como é diferente!...

Residência oficial do chefe de Governo islandês, em Reiquiavique
"Os islandeses são menos complacentes. No dia a dia, os portugueses são mais críticos. Os islandeses são mais reservados. Em Portugal, pode dizer-se que 'isto é uma porcaria' e continuar a gostar de viver assim. Parece que os portugueses têm medo de ser um pouco mais agressivos. Às vezes, pergunto-me por que os portugueses não agem mais em vez de falarem tanto..."
Gudlaug Run Margeirsdöttir, islandesa que estudou em Coimbra, licenciando-se em literatura

A democracia e os mercados

Entre as exigências dos mercados e a democracia eu tenho de escolher a democracia

Entrevista ao Presidente da República da Islândia - Ólafur Ragnar Grímsson 
(publicada na revista Visão, 29 de Abril de 2011)

Os islandeses rejeitaram, por duas vezes, pagar a dívida do Icesave. O senhor disse que é preciso encontrar uma solução política para este caso. Que solução?
O assunto Icesave é complexo, levanta muitas questões. A primeira é saber qual a natureza do sistema bancário e de regulação, na Europa. Também levanta a questão de saber até que ponto é lícito pedir aos cidadãos comuns - agricultores, pescadores, enfermeiros, professores - que paguem, com os seus impostos, durante 30 anos, o falhanço de um banco privado. A natureza do sistema bancário europeu é esta: se os bancos têm êxito, os banqueiros recebem grandes bónus e os acionistas recebem dividendos; se falham, a conta é apresentada aos cidadãos comuns. Outra questão que se põe é a das responsabilidades das autoridades reguladoras. A minha opinião é que os cidadãos comuns estão a ser convidados a pagar a conta do falhanço de um banco. Muito provavelmente, a verba resultante da venda do património do banco [Landsbanki] cobrirá a dívida. Se assim for, qual é o caso?

Tem valorizado sempre a vertente política e social desta crise. Essa é a primeira lição a tirar da experiência da Islândia?
Podemos dizer que esta foi uma crise financeira. Mas também podemos dizer que foi, fundamentalmente, uma crise democrática. Quando decidi colocar a questão em referendo, disse que, ao olhar para todas as análises, fiquei, no fim, com uma escolha: entre as exigências dos mercados financeiros, por um lado, e a democracia, por outro, eu tenho de escolher a democracia. Porque a democracia é muito mais importante para a nossa sociedade do que os mercados.

Muitos países europeus, como Portugal, têm problemas de dívida. Acredita que pode haver um diálogo, ou uma plataforma, entre estes países com problemas semelhantes?
É muito difícil, para mim, responder-lhe... Sempre defendi que a nossa experiência oferece muitas lições interessantes. Cabe aos povos dos outros países, e aos seus governantes, decidirem quais as lições que querem tirar. Depois, Portugal é membro da União Europeia, e, portanto, não está sujeito apenas às suas próprias decisões. O processo, na UE, envolve negociação. Mas, baseado na experiência da Islândia, sublinho que, quando os bancos faliram, e enfrentámos uma crise profunda, descobrimos que isto não é apenas uma crise financeira ou económica. Foi, também, uma profunda crise política e social. Houve manifestações, protestos, até violência, como nunca víramos antes. Para lidarmos com uma crise destas temos um desafio pela frente que não é apenas económico, é, sobretudo, democrático e social. E uma das razões pelas quais a Islândia está a sair desta crise, mais cedo e com mais determinação do que outros países, é porque também lidámos com o desafio democrático e social. Não chega que haja encontros entre ministros das Finanças ou banqueiros, para se sair desta crise em bom estado temos de perceber que a crise foi um choque para os cidadãos. Temos de reforçar a vontade popular e democrática da nação. Seja em cooperação com outros países seja sozinhos. A lição islandesa é esta: nós deixámos que os bancos falissem, não lhes injetámos dinheiro dos contribuintes - e pode dizer que isso foi porque não tínhamos o dinheiro necessário, o que é verdade, mas foi também por uma questão de princípio. Os bancos fazem parte da economia privada e, quando esta falha, deve acarretar a maior parte da responsabilidade. Não podemos ter um sistema em que a economia privada falha e a responsabilidade é passada para o povo. A Islândia foi um minilaboratório de todas estas questões: FMI, crise financeira, crise social. Num laboratório pequeno é mais fácil observar as coisas. Eu estou disponível para dialogar com outros sobre a nossa experiência.

A democracia saiu reforçada, na Islândia?
Definitivamente. Os acontecimentos de outubro de 2008 foram um choque democrático profundo. Este falhanço também se deveu à atuação do sistema político. O efeito dos referendos deu à nação uma autoconfiança democrática. Esse elo tinha sido quebrado. Nós podemos ter mercados e uma economia forte, mas se não tivermos uma forte vontade popular, não teremos futuro. Estando na vida pública há tanto tempo, nunca tinha visto um debate tão profundo e alargado entre os cidadãos como agora. E provou-se que os cidadãos comuns sabem formar opinião e decidir sobre assuntos tão complexos. Estou muito feliz, e até orgulhoso dos cidadãos do meu país. Diziam-me que o povo não podia decidir sobre estas questões, porque não tinha conhecimentos. Os cidadãos tornaram-se peritos.

E a crise fê-lo mudar as suas próprias convicções?
Claro que sim. De uma forma ou de outra, fomos todos influenciados pela ideologia do laissez-faire, nos últimos 30 anos, de Reagan e Thatcher. A premissa de que quanto mais desregulássemos e privatizássemos, melhor seria para a economia, era aceite por quase todos. O que vimos foi que, perante esta falha monstruosa do sistema, talvez devêssemos ter lido mais Adam Smith e Karl Marx, nos últimos 30 anos... [Risos]. Nos últimos dois anos, tentámos aprender com isto, aqui na Islândia: tivemos eleições, um novo Governo, uma comissão de investigação, mudámos as lideranças do Banco Central, aprovámos novas leis, regulámos mais. Francamente, não conheço nenhum outro país na Europa que, de uma forma tão sistemática, tenha reagido à crise. Muita gente não notou, mas nós tirámos também essa conclusão aqui: um setor financeiro muito forte, mesmo que saudável, retira muita capacidade criativa à sociedade. Os bancos modernos são, de facto, empresas high-tech, que absorvem engenheiros, matemáticos, cientistas, informáticos... As consequências disto fazem sentir-se nas indústrias criativas, que ficam sem mão-de-obra para poderem crescer. O êxito na economia, neste século, depende de um setor produtivo criativo dinâmico. Os bancos podem ser como eucaliptos, secam tudo à volta.


"É preciso repensar a República, tornar a discussão sobre as responsabilidades do poder mais democrática. É preciso empenhar as pessoas"
(Salvör Nordal, 48 anos, Professora de Ética, Directora do departamento na Universidade da Islândia; eleita presidente do Conselho Constitucional, órgão encarregue de rever a Constituição, o que acontece pela 1.ª vez desde 1944, data em que a Islândia se tornou independente da Dinamarca)


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Reflexos da crise na literatura (2)

Poema de Nuno Júdice, publicado no JL de 20 de Abril último.

                    A pressão dos mercados

Emprestem-me palavras para o poema; ou dêem-me
sílabas a crédito, para que as ponha a render
no mercado. Mas sobem-me a cotação da metáfora,
para que me limite a imagens simples, as mais
baratas, as que ninguém quer: uma flor? Um perfume
do campo? Aquelas ondas que rebentam, umas
atrás das outras, sem pedir juros a quem as vê?

É que as palavras estão caras. Folheio dicionários
em busca de palavras pequenas, as que custem
menos a pagar, para que não exijam reembolsos
se as meter, ao desbarato, no fim do verso. O
problema é que as rimas me irão custar o dobro,
e por muito que corra os mercados o que me
propõem está acima das minhas posses, sem recobro.

E quando me vierem pedir o que tenho de pagar,
a quantos por cento o terei de dar? Abro a carteira,
esvazio os bolsos, vou às contas, e tudo vazio: símbolos,
a zero; alegorias, esgotadas; metáforas, nem uma.
A quem recorrer? Que fundo de emergência poética
me irá salvar? Então, no fim, resta-me uma sílaba – o ar –
ao menos com ela ninguém me impedirá de respirar.

Reflexos da crise na literatura (1)

Teolinda Gersão, em A Cidade de Ulisses (editado em Março deste ano), faz um breve historial da má gestão portuguesa desde o século XV.

«Mas a época de abundância em que o ouro corria em Lisboa durou sessenta anos: de meados do século XV ao começo do XVI. Nessa altura acreditou-se que chegariam nos barcos tesouros sem fim, escravos, ouro, especiarias, tecidos, a cidade floresceu, encheu-se de ostentação e luxo, tornou-se cosmopolita. A ela acorriam representantes dos grandes banqueiros e dos grandes comerciantes da Europa e agentes secretos de outros países, também em busca de riqueza fácil, que procuravam informações sobre as rotas e os produtos.

Mas a péssima gestão e os gastos excessivos levaram o país à beira do colapso. D. João II e D. Manuel I, em reinados sem guerras e de abundância extrema, deixaram dívidas.
Outros europeus entraram em competição connosco no comércio e ganharam. Não soubemos gerir nem organizar-nos, soubemos envaidecer-nos e esbanjar.
A Feitoria da Flandres por exemplo acabou por ser fechada, e em 1549 o país perdeu o crédito em Antuérpia, hipotecando os lucros das exportações dos anos seguintes. Em pouco tempo o valor dos juros duplicou.
Havia fome em Lisboa e era a Flandres que se iam comprar cereais, com juros altíssimos, mas mesmo assim o pão faltava. Vendiam-se padrões de juros, adiavam-se pagamentos e pediam-se cada vez mais empréstimos. Vivíamos muito acima das nossas posses, e em lugar de produzir riqueza íamos a outros lados procurá-la feita. Foi assim que fizemos com África e a Índia.
E o mesmo sucedeu depois, noutro período de aparente abundância igualmente malbaratada, com o açúcar, o ouro e as pedras preciosas do Brasil, nos séculos XVII e XVIII. O país vivia numa contínua fuga para a frente.
Em 1557 Garcia de Resende apontava a falta de bons governos - esse mal acompanhou-nos cronicamente, embora não tivesse de ser assim.
Íamos procurar o longe, descurando o que ficava perto.
O país despovoava-se, não havia braços nem vontade para cultivar nem pescar e era demasiado caro o esforço contínuo da guerra, porque a expansão se fazia pelas armas. A «glória de mandar» desfez-se rapidamente em vaidade e espuma. O Velho do Restelo foi sempre criticado e mal visto, e ninguém aproveitou uma única palavra do que ele disse.»

 Portugal - um país de longas tradições!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Líderes - procuram-se

«(...) estamos numa época em que não há um único dirigente à altura da crise, e a crise repele os bons dirigentes. Bons tempos em que havia na Europa um Mitterrand, um Brandt, um Soares, entre outros, ou seja, homens que tinham defeitos (o que, na vertigem da nova moral importada dos Estados Unidos, já não é admissivel num político - pouco falta para cortarem da fotografia os charutos ao Churchill para não impressionar as criancinhas) mas tinham ideias, projectos e força para os cumprir. Hoje, temos vendedores de feira, e o problema é que não só o negócio está mau para lhes comprar as ideias como ideias é coisa que não têm. A velha política, portanto, acabou por ser absorvida pela máquina desideológica de um discurso feito de fórmulas e receitas cada vez mais light, até à anorexia final.»
Nuno Júdice, JL, 20 de Abril de 2011

Proposta de boletim de voto

Boletim de voto para as eleições legislativas de 5 de Junho de 2011


Instituições por ordem alfabética para não ferir susceptibilidades.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O último livro

«Que tipo de romance policial seria este se o enredo não se desenleasse?»

O escritor, que era o polícia bibliófilo, decidiu escrever um romance de detectives porque ele não considerava os romances de detectives literatura light, ao contrário da livreira: «- Porque é que ele decidiu escrever um romance de detectives? Não podia ter escolhido um assunto mais sério?»

Mais sério do que este princípio?
«Nada naquela morte fazia crer que tivesse sido causada por um acto violento, portanto não havia indícios que justificassem a abertura de uma investigação. Mas a proprietária da Livraria Papyrus entrou em pânico. Era a primeira vez que alguém perdia a vida na sua loja.»

A realidade das personagens é apenas a ficção de um escritor qualquer.
Abram o livro. De outro modo, o desenlace não será possível.

Este livro explica por que razão não queremos que alguns livros cheguem ao fim.

Acompanhem a leitura com chá de figo ou chá de algas.

domingo, 1 de maio de 2011

Verdadeiros Finlandeses convertidos

Timo Soini, líder do Partido dos Verdadeiros Finlandeses, disse que o seu partido poderia ver a ajuda a Portugal como a melhor opção para a Finlândia.
Apesar de nacionalistas e xenófobos, devem ter lido Arto Paasilinna:

«Uns após outros, vários dos desesperados tinham-se apercebido que afinal o mundo era um lugar muito aprazível para se viver e os problemas que na Finlândia lhes tinham parecido inultrapassáveis surgiam-lhes agora, neste outro extremo da Europa [Portugal], como coisas insignificantes. A longa excursão com os companheiros de infortúnio dera-lhes de novo vontade de viver. O sentimento de uma pertença comum consolidara a confiança que tinham em si mesmos, e o facto de terem saído do seu universo limitado abrira-lhes novos horizontes. Haviam readquirido o gosto pela vida. O futuro anunciava-se muito mais radioso do que teriam imaginado (...)»
Arto Paasilinna, Um aprazível suicídio em grupo

1.ª hipótese - Foi mesmo isto que aconteceu.
2.ª hipótese - As afirmações foram proferidas durante o fim de semana, altura em que muitos finlandeses estão podres de bêbados.

Rita - Dia da Mãe n.º 1

Filho Francisco da Mãe Rita



 

A avaliação continua

Como já se estava a prever... a avaliação do desempenho docente continua segundo o modelo de Maria de Lurdes Rodrigues.

Com a continuação das reformas - este mês foram mais quatro colegas, incluindo dois do grupo - já estou a fazer exercícios de aquecimento para substituir a minha ex-coordenadora na função de avaliador. Vou entrar en campo a mês e meio do fim do ano lectivo.
"Apanho o comboio" em andamento, mas a (falta de) lógica é esta.

Mundos paralelos: ricos, classe média e miseráveis


Diogo Leite de Campos, vice-presidente do PSD, doutorado em Direito e em Economia, Administrador do Banco de Portugal entre 1994 e 2000.

Será que a sua ideia, ao aceitar integrar a equipa de Passos Coelho, é acabar com a miséria em Portugal?
Esta gente que nos governa ou que nos pretende governar conhece o país? Esta gente vive onde?

Este vídeo consolida a minha ideia de que vivemos em mundos paralelos: o de quem nos governa (inclui os que mandam nos governos e os seus protegidos) e o de quem é governado.
Os poucos vasos comunicantes são para nos sugar.


A 13 de Maio

Com o azar que geralmente temos, o acordo com a Troika ainda vai ser assinado na 6.ª feira, dia 13 de Maio.

A partir daí, a peregrinação a Fátima por ocasião do 13 de Maio ganhará muitos mais motivos para a sua realização.

Valha-nos nossa Senhora!

Será meio caminho andado para a nossa beatificação.



E as ervas daninhas continuarão a crescer

"Infelizmente, está-se a tratar, em muitos casos, dos sintomas mas não das raízes. (...)
Esta ideia de comprimir o défice, como um rolo compressor em cima, sem perceber que o o problema fundamental do país não é, nem de longe nem de perto, não é de maneira alguma, a gravidade das finanças públicas - a situação é grave, mas isso é o reflexo, a imagem do espelho... A gravidade fundamental está na falta de capacidade empresarial competitiva em termos, digamos, de acrescentar valor e não de salários baixos."

João Cravinho, em declarações à TSF (28 de Abril de 2011)*

E a Troika preocupada!... Quer é o dinheirinho.
E os capitalistas preocupados!... O poder político protege-os.

*28 de Abril - dia em que Salazar, o "mago das finanças", faria 122 anos. Já não estava com idade para se juntar à Troika!