"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astrosou para o sorriso das vacas." Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
Filme de promoção da candidatura do cante alentejano a património imaterial da Humanidade.
Desta candidatura ou da próxima ou desta e da próxima...
Avec translation...
O cante alentejano já não vai ser proposto este ano para a lista de candidatos a património imaterial da Humanidade.O presidente da Comissão Nacional da Unesco, depois de ouvidos os elementos da Comissão Científica da candidatura, concluiu que "Não estão reunidas as condições mínimas para apresentação da candidatura no corrente mês". A proposta não estará “suficientemente amadurecida” e, correndo o risco de ser chumbada, o que inviabilizava a sua recandidatura por um período de 5 anos, foi considerado preferível adiar a apresentação da proposta para 2013. Já Rui Vieira Nery apresentara a sua demissão de Presidente da Comissão Científica por não concordar com a forma como estava a ser desenvolvido o processo de candidatura (ver aqui). Quem não se conforma com o adiamento é a comissão de candidatura, mas quanto aos seus argumentos… é só vontade de ir em frente.
Para se entenderem todos, o melhor é sentarem-se a uma mesa a comer uma açorda e a beber um tinto alentejano. Vão ver como melhoram logo a sua disposição.
Em Afirma Pereira, Antonio Tabucchi criou a personagem do jornalista que, no recém-instalado Estado Novo, dirigia a página cultural do Lisboa.Ontem, ao procurar informação sobre Tabucchi, tendo aqui alguns objectivos pedagógicos (defeito de ofício) e fazendo referência a efemérides sobre artistas/escritores, incluindo o assinalar da morte de alguns deles - aqueles que para mim são referência - lembrei-me do tal doutor Pereira.
«(...) e a seguir veio-lhe uma ideia magnífica, fazer uma breve rubrica intitulada "Efemérides", e pensou em publicá-la já no sábado seguinte, e assim, quase maquinalmente, talvez por estar a pensar na Itália, escreveu o título Há dois anos desaparecia Luigi Pirandello.»
Beethoven morreu a 26 de Março do há muito ido ano de 1827, na cidade de Viena.
Na sua extensa obra, destaco as sinfonias, onde coloca em movimento massas sonoras, com um forte impacte sobre o estado de espírito de quem as escuta.
Em 1802, Beethoven tinha esboçado a 3.ª Sinfonia, a Sinfonia Heróica, que teve a ideia de compor em homenagem a Napoleão Bonaparte, o “libertador da Europa”. A sua primeira execução pública terá sido em Viena, em Abril de 1805. O facto de Napoleão se ter feito coroar imperador atraiçoou o ideal de Revolução – liberdade, igualdade e fraternidade - que Beethoven admirava e a dedicatória acabou por ser outra. Também outro foi o segundo andamento: a Marcha triunfal inicial deu lugar a uma sentida Marcha fúnebre (provavelmente por mais um líder político que cedeu à tentação do poder despótico).
Os críticos da época acharam a sinfonia, a mais longa escrita até então, "fatigante", "interminável" e "desordenada". A música sinfónica não voltaria a ser a mesma.
A Marcha fúnebre (segundo andamento, parte 1, da 3.ª Sinfonia)
pela New York Philharmonic, conduzida por Leonard Bernstein.
Cuerpos de Dolor. A Imagem do Sagrado na Escultura Espanhola (1500-1750) é a exposição patente na Galeria de Exposições Temporárias do MNAA até 15 de Abril.
A exposição apresenta cerca de quatro dezenas de esculturas de figuras religiosas de grandes mestres espanhóis dos “séculos ricos” de Espanha, selecionadas das importantes colecções do Museo Nacional de Escultura (Valhadolid).
As peças, não sendo muito numerosas, são de grande valor artístico.
Destaco, por razões particulares, o Carrasco (figura do passo da flagelação), em madeira policromada, da autoria de Gregório Fernández (cerca de 1619).
Antonio Tabucchi (AT) - Gosto muito de perder tempo. Acho que é um grande privilégio. P - Como é que perde tempo em Lisboa?
AT - Olhando para as coisas, para as pessoas na rua, para a paisagem. A pessoa fica a pensar, a aprender coisas, observa. Pelo gosto de ver, de apanhar a vida alheia, ou de a imaginar. Gosto muito de passar pelo jardim do Príncipe Real, de tomar um cafezinho, de ouvir as conversas dos outros.
P - Passaram 40 anos sobre o seu encontro com Portugal. Muitos portugueses fazem um balanço amargo destes últimos anos — os ideais, a solidariedade. A sua amargura vai só para Itália. Porque é que poupa este seu segundo país, ou este seu outro país, Portugal?
AT - A minha amargura vai também para Portugal, por muita coisa, em geral. Talvez que respondendo possa fechar esta nossa conversa com uma frase de Fernando Pessoa, quando ele diz: “Falta por aqui uma grande razão.” Acho, efectivamente, que hoje em dia falta por aqui — e por aí — uma grande razão. Teremos de nos contentar com as pequenas razões. É a nossa época. Esta não é a época dos grandes ideais. Não existem grandes chamas de entusiasmo. E por isso, o importante é manter aceso o fósforo. Contentemo-nos em que o fósforo não se apague.
Entrevista a Antonio Tabucchi, Público - suplemento "Mil Folhas", 22 de Abril de 2006
Nasceu em 1943, em Pisa, a 24 de Setembro. Foi professor em várias universidades (Itália, França e EUA), destacando-se na leccionação de Língua e Literatura Portuguesas em Bolonha, Génova e Siena. Publicou ensaios, romances, contose textos teatrais. Muitas das suas obras estão traduzidas em várias línguas e quatro delas foram adaptadas ao cinema. Foi director do Instituto Italiano de Lisboa. Recebeu prémios em vários países. Escrevia regularmente na imprensa italiana, destacando-se na defesa da liberdade, o que o levou a ter vários litígios, um dos quais com Berlusconi.
A sua atracção por Portugal terá surgido quando estudava em França e descobriu uma colectânea de poemas de Fernando Pessoa, integrando o poema A Tabacaria, por cuja obra se apaixonou.
Decidiu conhecer Portugal (princípio dos anos 60) e estudar português para melhor compreender o poeta. Casou com Maria José de Lencastre (portuguesa), tendo com ela traduzido e dirigido a edição italiana dos textos de Pessoa, sobre o qual também escreveu vários ensaios. Foi o seu grande divulgador neste país.
Vivia dividido entre Portugal e a Itália. Foi-lhe concedida nacionalidade portuguesa em 2004, formalizando a sua ligação afectiva com o país de que se reconhecia "cativo". A sua casa em Lisboa ficava próxima do Príncipe Real, onde gostava de passar, tomar café e ouvir as pessoas. Apoiante de Mário Soares, foi candidato do Bloco de Esquerda nas eleições europeias (2004).
A sua obra de ficção iniciou-se com a edição de Piazza d'Italia, em 1975. O seu último livro editado, Tristano morre, data já de 2006, na edição portuguesa.
Escrevendo em italiano, muitas das suas obras têm Portugal como cenário e reflectem a realidade portuguesa. Considerava que o Alentejo era o sítio ideal para escrever, pois era como se estivesse fora do mundo. Apesar do seu conhecimento da língua portuguesa – afirmava sonhar frequentemente em português – só em 1991 escreveu directamente em português: Requiem, um romance onde um autor italiano se encontra em Lisboa com o espírito de um poeta português já morto. Pessoa andaria por aí.
A Dom Quixote anunciou a publicação para o próximo mês do último livro de Tabucchi, O Tempo Envelhece Depressa, um conjunto de contos.
Estava tudo a correr tão bem para o Governo - tão cordato, não rebatendo números, fazendo por ignorar a paralização, reafirmando a necessidade e a bondade das suas políticas (alternativa única e verdadeira para o país), tão low profile - e logo a polícia havia de carregar com uma violência que parece excessiva sobre um conjunto reduzido de manifestantes, de uma minoritária organização, carga que se estendeu a jornalistas (azar maior), originando imagens que logo correram mundo.
«Vista de um ponto alto Lisboa surgia como um labirinto. E havia muitos desses pontos altos (...). A partir deles tinha-se uma bela visão alargada e também a sensação inquietante de que milhares de olhos invisíveis podiam espiar-nos, de milhares de janelas; (...) E era curioso ver, de um miradouro para outro, como as perspectivas dialogavam, se completavam ou aparentemente se contradiziam. Gostavas de empoleirar-te a desenhar nos pontos altos, traçando o diálogo entre uns e outros: entre o que se via por exemplo do miradouro da Graça ou da Senhora do Monte, olhar, a partir de cada um, para São Pedro de Alcântara, e vice-versa. Ou olhar, do Castelo, para a Senhora do Monte e a Graça, ou a partir de qualquer deles para o Castelo. Uma cidade de linhas partidas, de perspectivas quebradas. Tudo era fragmentado em Lisboa, era preciso juntar pacientemente os pedaços para formar uma figura. Mas faltariam sempre alguns, encontravam-se a cada passo lacunas, interrupções, rupturas.»
Teolinda Gersão, A Cidade de Ulisses
Senhora do Monte
Convento da Graça
Castelo de S. Jorge
Miradouro de S. Pedro de Alcântara (junto ao arvoredo)
«As andorinhas podem passar livremente a fronteira. Os polícias oferecem grinaldas aos condutores de veículos mal estacionados. O cio invade a assembleia. Os deputados bombardeiam-se com pólen. Um nostálgico do outono argumenta: a primavera de Praga também foi de lagartas nas estradas.»
Quando ontem, numa turma, distribui as fichas de avaliação a preencher, um aluno confessou não ter estudado nada. Já em Fevereiro, na ficha anterior, tinha dito o mesmo. E eu lembrei-o disso.
Então ele quis esclarecer: "Não é a mesma coisa!"
"Como?", admirei-me.
"É que da outra vez não estudei. Desta vez não me lembrei que havia ficha."
A Primavera alegrou-se com as flores do prado e rosas, de van Gogh. O Museu Kröller-Muller, localizado no meio de um parque natural, no centro da Holanda, expõe a partir de hoje Natureza morta com flores do prado e rosas, de van Gogh, autoria confirmada à lupa por peritos de diferentes instituições e ao fim de vários anos de investigação com recurso a sofisticados sistemas de análise.
Na impossibilidade de ir ao Parque e ao Museu, usufruamos da imagem e imaginemos a frescura, as cores, os sons e os cheiros do prado e das flores.
Ainda bem que há estas datas que as pessoas querem comemorar.
Os Sétima Legião, vão assinalar os 30 anos da sua fundação com dois espectáculos: no Porto, Sala Suggia, a 29 de Abril, e em Lisboa, no Coliseu, a 4 de Maio.
Pensava que eram já caso arrumado: não editam originais há 13 longos anos – o último, que eu saiba, foi Sexto sentido.
Para mim, fazem parte do património musical português, embora a sua produção discográfica tenha sido relativamente curta. A um Deus desconhecido, Mar d’Outubro, De um tempo ausente, têm um lugar especial na minha discoteca. Sexto sentido, já aqui o disse, é uma obra-prima; penso que muito esquecida, mas é, asseguro!
Estou curioso em saber como estará o grupo, em ouvir Gabriel Gomes no acordeão, Pedro Oliveira na guitarra, Paulo Marinho nas gaitas de foles, ver Rodrigo Leão voltar a tocar baixo (será?), o que eles reservarão para o espectáculo...
Dia 4 de Maio, 30.º (ou 31.º?) aniversário da entrega da minha declaração de objector de consciência (celebremos, também!), já tenho lugar marcado no Coliseu.
Esta música justifica-se, mesmo que as imagens do vídeo sejam "da concorrência" - 1492: Conquest of Paradise
Completo a informação da mensagem de ontem com a ligação à página do Mosteiro na net.
Tem muita informação e visitas virtuais parciais. Uma outra pretensa ligação para uma visita virtual não está a funcionar.
A Fátima enviou-me a notícia do Jantar de S. Bento, a realizar no próximo Sábado, dia 24.
O jantar integra-se nas comemorações dos 25 anos da aquisição do mosteiro pelo Estado (1986), via IPPAR, que procedeu à sua musealização e abertura ao público.
Dez anos depois após a sua compra, decorreu um processo de recuperação restauro e reabilitação de partes do mosteiro, antiga Casa-Mãe da Congregação dos Monges de S. Bento em Portugal, beneficiada por ricas doações, nomeadamente do Conde D. Henrique, de D. Teresa e de D. Afonso Henriques, ou não fosse a Ordem de origem borgonhesa e um dos tios de D. Henrique seu abade.
O objectivo de reinstalar uma comunidade religiosa no antigo noviciado, que gere uma hospedaria e um restaurante, já foi atingido.
O mosteiro é monumental e merece (se merece!...) uma visita demorada - um fim de semana (a hospedaria não é cara, o restaurante é muito bom - pelo menos, o que comi e bebi - as irmãs, de várias nacionalidades, muito acolhedoras).
A ementa de dia 24 promete, como se pode ver - incluindo receitas, ou não saberíamos o que eram as sopas de vaca contrafeitas ou sopa de vacas contrafeitas...
As contrafeitas serão as sopas ou as vacas?
Restaurante - será aqui o jantar de S. Bento?
Não são muitos os lugares
A World Association of Sleep Medicine (WASM) escolheu o dia 18 de Março como o Dia Mundial do Sono.
Mas este ano, o Dia Mundial do Sono comemora-se hoje, dia 16.
Porquê? Por dia 18 ser Domingo? E então, não é um bom dia para um soninho descansado?
Não é a dormir que se comemora este dia?
A melhor forma de celebração, hoje, era termos ficado todos a dormir. Isso é que era uma homenagem!
Com direito a tolerância de ponto!
A Ponte da Misarela é um dos recônditos lugares a que me referi.
E não foi muito fácil descobri-la.
Sobre esta ideia do sossego ou de um certo isolamento dos lugares, Onésimo T. Almeida, numa das suas crónicas, lembra a entrevista de um velhote da ilha do Corvo, o Tio Pedro, a O Independente.
Corvo (2005)
«Terminada a entrevista, o Tio Pedro virou-se para o jornalista e disse-lhe assim: 'O senhor agora não vá para o seu jornal dizer mal da gente; mas também não diga bem, porque a gente gosta muito de estar sozinhos.'»
Onésimo Teotónio Almeida, Livro-me do desassossego
Faço tempo, no Cais do Sodré, entre a chegada do comboio e a partida do barco.
Faço tempo, no Seixal, entre a chegada do barco e a partida do autocarro.
"Utilize os transportes públicos" - dizem.
Sento-me à beira do rio ou à beira do passeio e vou rascunhando este desabafo.
E faço tempo!... O dobro do tempo, agora, quando não é hora de ponta!
Quem me manda trabalhar numa "aldeia" a quase 50 km de casa e não ter automóvel?!
Neste caso não são segredos, são coincidências, naturais em relação a locais ou percursos bem conhecidos: encontrei publicados recentemente os desenhos da região de Braga, onde estive há pouco tempo.
Num blog que dá gosto ver - Diário Gráfico - Eduardo Salavisa publicou:
Complemento com as fotografias:
Igreja de S. João do Souto (Braga)
Mosteiro de Tibães
E há mais coincidências de sítios. Atracção, perseguição...